
THIS IS NOT A WHITE CUBE
De que formas é que reinventou o ritual Tchiloli?
Enquanto património de São Tomé e Príncipe, o Tchiloli tem sido o ponto de partida das minhas buscas artísticas. Revejo no Tchiloli os aspectos mais comuns da formação da sociedade são-tomense e tento através deste olhar comunicar e traduzir o meu interesse pela valorização da memória e da História.
Estendo este interesse à minha própria busca pessoal e tento através do Tchiloli buscar aspectos que se relacionam com estes. É um exercício que não cessa de evoluir no ponto de vista de criatividade e investigação.
É um nome constante na exposição colectivas da galeria de arte THIS IS NOT A WHITE CUBE, como encara este regresso a solo?
Não existe um regresso a solo. Na verdade, há um trabalho de acompanhamento e de proximidade. A This Is Not a White Cube é uma galeria de carácter progressista, que faz junto, dos seus artistas, pesquisas em torno do discurso, das obras, das afirmações e das perspectivas. Talvez seja a razão para hoje ser um nome constante nas colectivas.
Que avaliação faz desta relação com a THIS IS NOT A WHITE CUBE?
É sempre bom trabalhar com este olhar profissional da curadoria, um olhar para a arte e para a gestão de mercado, porque a arte e cultura são um importante factor para o desenvolvimento futuro das nossas sociedades. De resto, o Banco Económico é uma instituição que tem também esta postura e que vem apostando na arte e nos artistas como forma de contribuir activamente para o desenvolvimento da cultura em Angola e do olhar crítico da sociedade para vários fenómenos que a arte leva até públicos mais vastos.
É a sua estreia a solo em Angola, qual é a expectativa?
A expectativa foi sempre muito alta. É a minha primeira exposição individual em Luanda, mas não é a primeira vez em Angola. Tenho aqui amigos, família, colegas deste mundo de arte, coleccionadores, e pessoas bastante interessadas no meu trabalho. Na minha opinião é uma exposição bastante bem conseguida em relação à visão curatorial. Traça uma óptima cronologia do meu trabalho, estabelecendo o cruzamento entre obras que reportam a um intervalo temporal de 10 anos.

THIS IS NOT A WHITE CUBE
Infelizmente, devido aos condicionalismos resultantes da pandemia do coronavírus, os acessos ao recinto são condicionados, mas estamos a encontrar formas criativas e inovadoras de promover o projecto, tais como: a produção de uma visita virtual, que inclui uma entrevista minha no espaço e o desenvolvimento de uma estratégia digital, que passa por uma maior dinamização da presença nas redes sociais e noutras plataformas exclusivamente dicadas à arte contemporânea. A exposição estará patente até dia 27 de Maio, com acesso controlado por forma a prevenir a propagação do vírus.
E na sua terra natal, quantas exposições a solo já protagonizou?
Algumas, ao longo de vários anos. Em países pequenos e sem estruturas formais, os artistas são obrigados, muitas vezes, a gerir os seus projectos directamente e a criar momentos para a promoção e venda do seu trabalho. As exposições individuais fazem, portanto, parte da forma sustentável de trabalhar quando não há estruturas ou mercados de arte desenvolvidos.
Após ter desenvolvido os meus estudos em Belas Artes, em Dakar, no Senegal, tive a oportunidades de realizar exposições fora de São Tomé. Pude, desde cedo fazer algumas exposições que afirmaram progressivamente o meu percurso.
Em São Tomé colaborava com a Bienal de Arte e Cultura, realizando alguns projectos de âmbito cultural e artístico. Não só organizava exposições como participava em algumas.
Relativamente ao tema do património que é tido como uma arma forte na reestruturação e pensamento comum. Essa linguagem universal tem conseguido partilhar as histórias de todos os tempos?
Acredito cada vez mais – e confirmo-o através das minhas viagens – que os espaços como território não têm sentido se não estiverem associados a uma história ou a uma memória pessoal. Nós também somos o fruto do conjunto dessas memórias. Carregamos o valor da História e essa relação entre memória e património é exactamente o que faz a nossa identidade, que é dinâmica porque, afinal, tudo está em processo…
As decisões políticas, o efeito da deslocação de pessoas, ideias e objectos gradualmente afastados de ambientes familiares para outros, novos, carregado de diferentes tecidos de memória e património, assumem repercussões na memória e herança dos povos. Apesar dos vários interesses que se lhe sobrepõem, o património permanece muito directamente ligado aos gatilhos da memória, que actuam como adereços na construção das narrativas de identidade e pertença. Essa relação, entre memória e sentido de identidade e pertença é, cada vez mais, sensível no contexto contemporâneo. Admito que esse facto deriva muito do espaço que se habita, que é, cada vez mais transitório, da mesma forma que assumo que, em mim, deriva dos meus valores africanos e da importância da mensagem que transporto com os meus valores, através dos territórios de partida e de chegada.
Como funciona o processo de preparação de uma exposição multidisciplinar?
Pende entre dois mundos: entre o trabalho de atelier e o trabalho de curadoria. Como disse anteriormente, entre estes dois eixos, há um trabalho de muita partilha e proximidade que tem na base a troca de ideias e a busca de soluções. Mas diria que é sobretudo o estudo curatorial que acaba por definir muito mais a estrutura da exposição, trazendo-lhe renovadas camadas e elementos narrativos. Esta exposição foi pensada com tempo e com um olhar atento, estudado e estruturado sobre o meu trabalho pela equipa curatorial da galeria THIS IS NOT A WHITE CUBE.
Numa altura em que se vive uma instabilidade social, quais as medidas prevenção que serão tomadas durante as visitas à exposição?
O Banco Económico tem absoluta consciência do quadro epidemiológico mundial. Nessa linha, para que o público possa visitar a exposição tranquilamente e em segurança, estão já a ser aplicadas internamente algumas medidas de prevenção e contenção, que têm por base as orientações emanadas da Organização Mundial de Saúde.
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