Dia Mundial da Conscientização do Autismo

Zenilda Bonito
5 Min Read

Hoje, dia 2 de Abril, é o dia Mundial de conscientização do Autismo e como tal, é pertinente e urgente falarmos desta condição que apesar de muito debatida, ainda é um tabú no que toca à saúde mental. 

Quando falamos de autismo, deparamo-nos com um grupo de distúrbios neurobiológicos, mais concretamente: Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), cujos sintomas ocorrem precocemente e persistem ao longo da vida.

Apesar das diferentes manifestações clínicas com as quais ocorrem, as características típicas do TEA podem ser resumidas em:

  • Deficiência de comunicação e interação social
  • Comportamentos e interesses restritos e repetitivos (DSM-5, 2013)

Além desses sintomas básicos, as pessoas com autismo também podem apresentar distúrbios sensoriais, problemas do sono, problemas nutricionais, desarmonias motoras, desarmonias nas habilidades cognitivas, baixa autonomia pessoal e social, auto-agressão, ou agressão em grau mais ou menos acentuado.

Muitas pessoas autistas altamente funcionais, isto é, com um nível intelectual e linguístico que lhes permite falar sobre seu autismo, definiram-se como “extraterrestres”, precisamente por causa do senso de estranheza e desorientação que o mundo baseado na neuro-tipicidade causa neles.

Essa falta de intuição, não apenas no mundo social, mas também na sucessão de eventos, faz com que os autistas se esforcem para colaborar e ter iniciativa na vida quotidiana e, acima de tudo, para suportar mudanças de rotina e eventos inesperados. Pela mesma razão, eles podem entrar em crise devido a expectativas ou ao facto de terem de, por exemplo, esperar pela sua vez, ou outras situações semelhantes.

Os estímulos sensoriais também são processados ​​por pessoas com autismo de maneira diferente da típica população. Uma sirene, um objecto “fora do lugar” pode levá-los a uma crise de agitação; um tom de fala mais agitado, um ruído até completamente tolerável para nós, pode levá-los a tapar os ouvidos, fugir para outro lugar ou dar à luz estereotipias motoras ou verbais.

A linguagem verbal nem sempre está presente e, mesmo quando usada, pode ser bizarra ou aparentemente sem sentido. As dificuldades podem surgir tanto ao nível da produção, mas também e sobretudo, ao nível do entendimento, e, portanto, mesmo as pessoas com autismo que se expressam muito bem às vezes podem não entender o significado do que lhes é dito, especialmente se for usada uma linguagem rica de nuances, metáforas, ironia, etc.

Pelas mesmas razões, eles podem não entender perguntas bem articuladas ou que contenham o “por quê?”, às quais é possível que respondam inadequadamente ou com a repetição da própria pergunta.

Em cerca de 70% dos casos, o autismo também é acompanhado, na comorbidade, por outros distúrbios psiquiátricos e neurobiológicos.

A prevalência está longe de ser rara: os dados mais recentes do Programa de Epidemiologia do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças relatam 1 caso para cada 54 crianças (CDC, 2016).

É importante ter em mente que quando falamos sobre autismo com muita frequência, focamos apenas no indivíduo, negligenciando as consequências que essa condição tem nos sistemas proximais: a família, a escola e, mais geralmente, a comunidade.

Qualquer indivíduo que conviva com uma pessoa que sofre de autismo tem de dedicar um cuidado mais elevado, em quantidade e tempo, do que o que normalmente dedica a uma pessoa neuro típica, às vezes com o risco de sofrer alguma frustração relacional e afetiva e isolamento social em troca. É por isso que é fundamental uma abordagem que não se limite a identificar intervenções, mas que implemente uma abordagem global que tenha em consideração todas as pessoas e recursos que giram em torno da pessoa autista.

Se é verdade que o autismo não tem cura, também é verdade que um processo precoce, global, baseado em evidências e, que acima de tudo respeite a pessoa, os seus desejos e especificidades, faz toda a diferença e permite melhorias significativas, através do aumento no nível de qualidade de vida das pessoas afectadas, na sua unidade familiar e noutros sistemas de pertença.

O autismo é uma condição que traz consigo dificuldades, mais ou menos graves, mas também é uma maneira diferente de ver as coisas, um grande desafio educacional, humano e de inclusão.

Uma condição para a qual a participação de todos torna-se uma necessidade e um estímulo criativo juntos.

Porque existem tantas maneiras de ser, e tantas inteligências diferentes, e o mundo precisa de todas elas.

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