O que acha, chorar faz bem? Muita gente acredita que colocar as emoções para fora é sempre uma óptima forma de reagir a uma emoção negativa, mas temos bons motivos para acreditar que isso também pode ser um tiro nos pés.

Esse acto pode sim ajudar a regular o seu humor, mas o efeito depende de si, do que despertou o choro, de como o expressou e do seu contexto, já que pode sentir-se da mesma forma de antes, ou piorar ainda mais depois de chorar.
Para deixar tudo mais claro, vamos primeiro entender o que é choro: o choro envolve a liberação de lágrimas a partir do sistema lacrimal sem ser por causa de alguma irritação nos olhos. A lágrima é um líquido composto por água, sais, lípidos, anticorpos, hormonas e enzimas, sendo que a composição das lágrimas pode variar, dependendo do que a despertou.
Existem certas mudanças corporais que costumam surgir com o choro, tais como a contracção de alguns músculos do rosto e vocalizações. Também podem ocorrer os famosos soluços, os quais envolvem a inspiração e expiração compulsiva de ar junto a espasmos de músculos ligados à respiração.
A pessoa pode chorar por uma grande variedade de coisas, bem diferentes umas das outras: eventos negativos – como a perda de um emprego – eventos positivos – como ganhar um prémio – eventos quase sem sentido – como assistir um filme dramático – ou eventos extremamente importantes – como conseguir o emprego dos sonhos.
Apesar disso, é mais comum que o choro seja uma reacção a situações que envolvam alguma forma de perda, separação, sentimentos de vulnerabilidade ou emoções intensas, sejam elas positivas ou negativas.
Chorar faz bem à sua saúde? Depende!
A variabilidade no efeito do choro depende de alguns factores. Caraterísticas pessoas tais como o género, os traços de personalidade e sintomas clínicos influenciam o seu efeito.
Quanto ao género, homens costumam relatar que depois de chorarem sentem uma melhoria parecida com a das mulheres, apesar de ser um pouco menor.
Pessoas mais extrovertidas tendem a sentir-se mais aliviadas após chorarem, enquanto que as que são mais obedientes às normas sociais podem viver o efeito contrário, ou seja, sentir-se pior depois de chorarem, possivelmente por se sentirem envergonhadas.
Quem tem níveis elevados de alexitimia (incapacidade de expressar emoções), sintomas depressivos ou ansiedade, por exemplo, tende a sentir um humor mais negativo ainda depois de chorar, sendo que a alexitimia é a maior causadora dos efeitos prejudiciais que o choro pode ter no humor.
Foi observada em um estudo uma maior actividade no sistema nervoso parassimpático de pessoas que não tinham depressão, logo depois de assistirem a um filme triste, algo que não foi observado nos participantes com depressão.
Pessoas com sintomas depressivos tendem a não melhorar muito o humor depois de chorarem, embora algumas revelem um anormalidade na actividade do sistema nervoso parassimpático.
Os efeitos do choro no humor também podem dar-se por meio do aprendizado que a pessoa teve. Por exemplo, algumas experiências prévias de choro podem ter motivado outras a cuidar de si. Este suporte social tende a ser uma experiência recompensadora.
Com o passar do tempo, o seu cérebro pode relacionar o choro com a sensação boa de ser apoiado, mesmo sem receber o suporte de alguém. O contrário também pode ocorrer se quando chora, costuma receber um tratamento agressivo ou pouco empático.
No início da vida, o choro pode garantir a própria sobrevivência da pessoa e ao longo da sua existência, ele também pode exercer funções, tais como reduzir o afecto negativo, estimular a empatia dos outros e motivá-los a ajudarem em momentos mais difíceis.
Mas chorar é uma expressão emocional complexa e intensa que marca muitos dos eventos mais importantes das nossas vidas, sejam eles positivos ou negativos. Por esse e outros motivos, os seus potenciais impactos na mente humana também são complexos e um olhar científico ajuda-nos a ver essa complexidade.
O que é que podemos concluir? O choro em si não faz necessariamente bem, mas sim os factores ligados a ele. E outros elementos como a pessoa, traços de personalidade, estado ou sintomas clínicos também têm um grande impacto.
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