Uma amena conversa com o músico Carlos Praia

Janilson Duarte
9 Min Read

“A música encontra sempre os seus caminhos para ir ao encontro do músico…”

Foi num clima ameno que o músico e produtor, Carlos Francisco Praia dos Santos, também conhecido popularmente como Carlos Praia, conversou com a  Revista Chocolate, aproveitando o momento para revelar como nasceu o seu amor e paixão pela música e quem o inspirou a continuar nos momentos difíceis da sua trajectória.

Tudo isso, poderá acompanhar nesta entrevista:

C.H:  Por que escolheu a música?

“A música encontra sempre os seus caminhos para ir ao encontro do músico; a escolha não foi difícil, porque muito cedo percebi o quão triste seria para o resto da minha vida se não tivesse escolhido a música e quão distante estaria da minha missão.”

C.H:  Quando e como nasceu o gosto pela música?

“O gosto nasceu desde muito cedo e bem antes de ter começado a falar. Lá em casa, o meu pai sempre tocou o violão para mim e os meus irmãos e para os vizinhos que faziam serão (momento musical), connosco no quintal do mano Carlitos (meu pai), cantando os clássicos do gospel e do world music.”

C.H: O que é que o motivou ou quem é que o inspirou a fazer música?

“O meu pai, mas em momento eu havia desistido por não ter sido admitido à faculdade de artes, ali Deus, através dos profetas da minha igreja, deu-me a motivação de que precisava para continuar e desde então nunca mais parei.” 

C.H: Por que it escolheu especializar-se em violão? Há algum motivo especial?

“A música tem diversas modalidades, podemos ser bons executantes em várias, mas devemos especializar-nos naquilo que fazemos com maior facilidade e nos toca a alma mais profundamente – e no meu caso esse instrumento é a guitarra/violão.”

C.H: Conte-nos onde e como foi o seu processo de formação académica, na especialidade de violão, o instrumento que tanto ama.

“Primeiro fiz 3 anos de violão clássico na escola de música “Mestre Webba” cá em Angola, 2003-2005, a seguir fiz um curso de Orquestração para Jazz Big Band em Botswana com o professor Barry Nolan, 2010-2012; e depois fui para  Pretoria, África do Sul, onde fiz o curso de Jazz e música popular, especializando-me em guitarra e improvisação de Jazz, 2013-2016. O processo foi árduo, porque requer ler muitos livros, muitas partituras, estudar e desenvolver técnicas, viajar, actuar com muito frio nos dedos, passar mais de 6 horas por dia a ensaiar – e acima de tudo estar distante da família, igreja e do país.” 

C.H: Qual é o seu objectivo com a música?

“Levar a palavra de Deus, comunicar o amor, activar zonas da mente que só a música consegue fazer, facilitar o raciocínio, inspirar a criatividade, inteligência e a autodisciplina, ajudar a desenvolver a linguagem oral, a afectividade, a percepção corporal e também promover a coesão social.”

C.H: Actualmente, quais são os artistas com quem se identifica, a nível nacional e internacional?

“Identifico-me com todo o artista que luta pelas boas causas e usa os melhores meios para fazê-lo, que se torna um veículo do amor e da paz, para mencionar alguns: Bonga, Samangwana, Don Caetano, Afrikanitha, Yola Semedo, Nelson Faria, Gari Sinedima, Cris Delano etc.”

C.H: Fale-nos da sua carreira e momentos marcantes.

“O lançamento do meu álbum New Grace 2018, foi um documento maravilhoso por ser o meu primeiro disco e instrumental, eram muitas expectativas e depois de um mês saiu em 5o lugar no Top dos Mais Queridos. Em 2020 toquei na abertura da Biennal 2020. Em 2021 passei a fazer parte do projecto Heart Of Expression, da artista norte Americana Victory Boyd, como professor – e desde então passei a dar aulas de música e produção musical para artistas internacionais e outros bons momentos para recordar.”

C.H: Fale-nos dos projectos ou trabalhos no qual já participou.

Toquei no recital do mestrado de Nelmarie Rabie (2015);

Trabalhei na banda da União Africana (2016);

Em 2017, formei a minha Banda (Carlos Praia Jazz Band), com a qual tocamos em vários projectos e organizamos alguns, nomeadamente: Festival Manguxiando, Concerto Poesia e Jazz, LAC 25 anos, vários Workshops de Jazz, Concertos com Selda no RoofTop etc.;

Toquei no projecto Deus É O Maior, de Ivan das Neves, também toquei e fiz arranjos para o Álbum Gratidão, de Gari Sinedima (2019) e no Álbum The Soul Music of Angola, de Afrikanitha ( 2021 )  etc .“

C.H: Obras e projectos em carteira?

“Estou a trabalhar no meu segundo álbum, para tal solicito o vosso apoio e patrocínio.

Tenho o programa Olombombo, conversas artísticas com Carlos Praia, onde convido artistas das distintas áreas artísticas ao meu atelier para falarmos acerca das suas carreiras e fazermos arte ao vivo. Lançamos recentemente o single A Yehova, do casal Harmonia Carlos Praia e Delnata Praia, que se escontra disponível em todas as plataformas digitais e brevemente trabalharemos no álbum.”

C.H: Com que regularidade há espectáculos especificamente de música instrumental, no nosso mercado?

“Não é regular, primeiro porque temos poucos agentes para artistas com experiência, sensibilidade e formação nesta área especifica, então poucos conseguem colocar artistas a fazer apenas artes em bons espaços e com óptimo cachet, logo os poucos bons instrumentistas acabam por ser quase esforçados a cantar ou a acompanhar quem canta, ou então a tocar poucas vezes por ano e por muito pouco.”

C.H: Como tem sido a recepção do público quanto à música instrumental?

“Cada dia melhora vagarosamente, mas precisamos também de ter guitarristas com formação em música, para entenderem melhor de arranjos, composição, improvisação, prática de conjunto, treino de audição, apreciação musical, solfejo etc… A questão não é somente montar um show de guitarra, mas sim entender este instrumento e poder captar as pessoas com uma linguagem que transmite todos os bons sentimentos, despindo-se da ignorância e do ego, da dúvida e do medo…  Não é só acerca de técnicas, harmonias ou rapidez, é preciso disciplina e conhecimento, o repertório precisa de ser bem pensado, arranjado e apresentado, para que as pessoas paguem cada vez com menor esforço. “

C.H: Actualmente como avalia a música angolana?

“A bom porto, melhorando quando e como possível, precisamos de apostar em agências visionárias, que pensem primeiro no artista, porque sem artista a arte não sobrevive por muito tempo e vice-versa.”

C.H: Quais são os artistas com quem gostaria de trabalhar?

“Mariza, João Alexandre, Rosa Passos, Irmã Sofia, Roberto Menescal, Sampa The Great, George Benson, Toto St, Thales Roberto, Flavia K, Emanuel Mendes, Alexandre Pires, Guy Destino etc.”

C.H: Qual é o papel da música gospel na vida do músico instrumentista angolano?

“A igreja ou a disciplina musical cristã foi e é o berço de grandes artistas, especialmente instrumentistas. São poucos os instrumentistas bons, que não vieram da igreja ou que não foram influenciados por músicos cristãos, isto mesmo a nível mundial… A Igreja continua a jogar um papel preponderante na vida dos músicos.” 

C.H: O que deseja transmitir como músico?

“Esperança, paz, força, amor, coragem, novos ventos, um segundo pensamento, uma outra forma de olhar para as coisas e buscar assim soluções para as diversas coisas que nos afligem nesta experiência humana.”

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