Empreender em Angola não é uma tarefa fácil, empreender em moda, um sector cuja industria começa a dar os primeiros passos é mais desafiante ainda, mas Heritier Mbunga , ou simplesmente “Escuro” como é profissionalmente conhecido acredita no processo e tem demonstrado toda sua criatividade, resiliência e mestria na afirmação da sua marca, enquanto gestor do Grupo Escuro – Gestão de Empreendimento LDA.

Apesar de ter mais notoriedade o Atelier Escuro, de roupa sob medida e acessórios, o empreendedor explica que a área principal de actuação do Grupo é a produção de uniformes.
De onde provém a matéria prima?
A nível do uniforme produzimos 70% com material nacional, produzido pela Textang. Ao nível do Atelier ainda trabalhamos com importação de tecidos de Itália, Portugal e Inglaterra.
Qual é o impacto da exportação da matéria prima no crescimento da indústria da moda nacional?
Temos altas costura em todo mundo e a escolha de tecido é livre. Os italianos trabalham com tecido inglês e vice-versa. Então isso na indústria da moda é completamente aceitável. O mercado precisa de mais fábricas do porte da Textang para introduzirmos no mercado outra modalidade, ou qualidade de tecidos. É nisto onde precisamos crescer para criarmos efectivamente um mercado têxtil.
A escolha da importação dos tecidos, tem a ver com a baixa produção interna ou com a qualidade?
A nossa importação da matéria-prima tem a ver com o tipo de serviço que queremos oferecer e o nível que desejamos alcançar com a nossa marca. Nós não criamos uma marca só para Angola, mas para conquistar o mundo. Levar para o mundo peças produzidas com matéria-prima 100% angolana é o sonho de quem trabalha para Angola.
Este sonho está perto de ser realidade?
Já estivemos mais distantes. Hoje já conseguimos fazer um gracioso casaco com tecido da Textang (nacional), tornando uma produção, 100% feita em Angola.
Além do consumo local, os vossos produtos são também consumidos no exterior?
Hoje em dia – graças a Deus – temos muita venda para o exterior. Conseguimos colocar no mercado ao longo dos últimos cinco anos uma marca que tem sido abraçada por angolanos e não só.
Qual é a sua visão sobre o estado da indústria da moda em Angola?
Em Angola ainda não temos uma indústria da moda. Temos é um pequeno nicho de moda, porque a indústria da moda implica consumo. Quando nós, os angolanos, começarmos a consumir material/produtos feitos em Angola, aí, sim, teremos uma indústria da moda, estamos em processo de criação e muito longe de acontecer.
Em particular, que passos devemos dar para criarmos uma indústria da moda em Angola?
O principal passo é termos mais produtores e quando falo de produtores não me refiro de criadores de produtos finais. O mercado da moda é extenso, precisamos de pessoas com visão, oportunista de negócio, que repare no que é necessário para confeccionar uma peça e mostre a solução – falo desde a linha, o botão, a entretela – existem tantos meandros da indústria que precisam ser alimentados. E infelizmente quem alimenta este mercado não são os angolanos, mas os estrangeiros. Precisamos de fornecedores principais locais para não dependermos de estrangeiros.
De quem é esta responsabilidade, será do governo?
Eu digo que é uma faca de dois gumes. Se por um lado o governo tem essa responsabilidade, por outro lado, a a camada jovem, deve despertar e ser proactiva. Infelizmente estamos com uma limitação de visão de oportunidades de negócio. Conseguiu-se colocar o embrião da moda em Angola, agora temos é que pensar e trazer mais pessoas com o pensamento de que não preciso ser o criador, mas posso ser a sua máquina.
Quando mudamos isto, deixando de ser vítimas e seremos nós os pró-ativos a fazer e aí sim, conseguiremos crescer.
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