Capulana: o embaixador da moda em Moçambique

Celso Gamboa
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Quem pensa que é só um pedaço de tecido, engana-se! O carinho e cuidado com que as mulheres tratam este tecido é distinto. É um tecido de algodão com uma grande diversidade de cores e estampas, tendo cerca de 1,10 m x 1,80 m de dimensão, mas que se diferencia de outros tecidos para a sociedade moçambicana, pois carrega historicamente um valor simbólico e tradicional, dadas as formas do seu uso, em especial pelas mulheres.

Segundo Torcato e Rolletta: na África Oriental, onde se fala suaíli, diz-se que este modo de vestir surgiu em meados do século XIX, quando as mulheres começaram a comprar lenços (em suaíli diz-se “leso”) de tecido de algodão estampado e colorido, trazido pelos mercadores portugueses do Oriente para Mombaça. Em vez de comprar um a um, mandavam cortar seis quadrados de uma vez, dividiam este pano ao meio e cosiam o lado mais comprido, fazendo uma capulana de 3×2 lenços. Depois era só envolver o corpo, amarrar com mais, ou menos estilo e a moda impunha-se à medida que cada vez mais mulheres faziam o mesmo.

Não se sabe de forma efectiva a origem do nome, ou de onde veio esse tecido, muitos países do continente africano fazem uso de tecidos, que se assemelham às capulanas, mas os mesmos também são nomeados de forma diferente, como abordam Torcato e Roletta:

“Noutros países, estes panos podem ter outros nomes. No Quénia chamase ‘kanga’. Na África Ocidental, no Congo, ou no Senegal, chamam-lhe ‘pagne’. Muitas línguas moçambicanas têm nomes vernáculos para estes rectângulos de tecido. Mas ‘capulana’ é o nome mais usado, de norte a sul, de leste a oeste, em Moçambique. Hoje o nome faz parte do léxico da língua portuguesa, mas não é uma palavra de idêntica origem.”

 Porém, ainda que distintas, as nomeações dadas a esse tecido, o que chama à atenção é a forma como se usa em Moçambique. No dia-a-dia são utilizadas de diferentes formas, tais como: para carregar o bebé nas costas, como parte da indumentária; para cerimónias religiosas/fúnebres; nos ritos de iniciação; noivados; bem como em datas comemorativas de diferentes categorias, “falando de forma singular sobre cada uma delas”.

O tempo destaca que para muitas mulheres casadas e mais velhas em todo o país, principalmente nas províncias de Nampula e Maputo, a capulana passa a ser um símbolo de riqueza: quanto mais capulanas e “mucumes” tiver, mais rica a mulher se considera. Estas são guardadas juntamente com os “mucumes” em malas e velhos baús, que muitas vezes recebem no dia do seu casamento. Ela passa a coleccionar as capulanas que recebeu de presente no dia de seu matrimónio e as restantes, que poderá receber do marido, como demonstração do seu amor, de cuidado e vontade de querer ver a sua esposa sempre bela.

A dona só se “desfazia [delas] em caso de extrema necessidade financeira, podendo vender, ou repassar para as mulheres da família como um tipo de herança, ou como prenda de casamento”.

As mulheres que usam esse tecido podem ter várias histórias para contar. Em algumas localidades do norte de Moçambique, a forma como a mulher amarra a capulana determina o seu estado civil: casada, solteira, divorciada, viúva, noiva, etc.

Antes utilizada para esconder e preservar o corpo da mulher, hoje, com as tendências da moda, a capulana passa a servir também para mostrar o corpo das mulheres. Actualmente, o tecido é utilizado para fazer todo tipo de roupa, inclusive roupa de praia.

A capulana, carregada de valor histórico, tem merecido a atenção também de investigadores e escritores que já produzem teses e obras literárias sobre este tecido, que passa a ser um “embaixador cultural”.

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