Karen Pacheco: O antigamente que eu nunca vivi

Edwilson Pinho
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Quem de nós nunca ouviu um mais velho dizer “…antigamente as coisas não eram assim”? Refiro-me especificamente a situações que evidentemente hoje em dia são vistas de maneira constante, frequente e por causa disso, chegam a ser tidas como normais, com o fundamento de que “os tempos mudaram”. É importante realçar que, e é a interpretação que faço do primeiro ditado citado, não é que a maldade, a inveja, a raiva, entre outros sentimentos desse cariz não existiam, e que não houvesse a prática de actos maus, perversos, prejudiciais, etc. Havia, existiam, mas não era assim, não era como nos dias de hoje.

Honestamente falando meus leitores, sinto-me desajustada porque é incrível que numa escala de 1 a 10, eu vá contra 10 vezes tudo o que vejo na nossa sociedade, e tenho a certeza de que não sou a única. Quantas vezes já viste uma situação que deveria ser repudiada do início ao fim, mas é romantizada, é levada com calma, é tão lavada que de tão suja que era torna-se limpa e tu questionas a tua própria forma de pensar? Eu tenho saudades do olhar sem malícia, tenho saudades da conversa sem segundas intenções, tenho saudades do dar sem esperar retorno, tenho saudades do amor intenso vivido a dois, tenho saudades da educação, tenho saudades de pessoas de palavra, tenho saudades de acreditar em palavras sem precisar de provas, tenho saudades da boa interpretação sem que as pessoas sejam crucificadas pela falta de uma vírgula.

Pouco a pouco começo a concordar com Rousseau – “o homem é bom por natureza, a sociedade é que o corrompe”, – com preceitos infundados e valores morais que são tudo menos morais. Mas a sociedade são as pessoas e as pessoas a sociedade, então eu concordo também com Augusto Cury quando ele diz que “o homem é neutro, a sociedade o educa ou realça os seus instintos”, e a interpretação deixo a vosso critério.

É imperceptível o trabalho que as pessoas têm para normalizar o que claramente não é normal. Oh! Que saudades daquele antigamente que eu não vivi, mas sinto ter vivido… hoje é quase impossível separar o joio do trigo porque não é só a juventude, é a sociedade num todo, são os adultos com comportamentos duvidosos, adultos complexados, adultos com o ego fragilizado, adultos complicados por marcas do passado ou porque é a sua personalidade, e que isso fique bem claro. Porém, quem sou eu?! Eu sou apenas uma jovem com saudades de um antigamente que nunca viveu, pois viver com a mentalidade “do antigamente” actualmente é ser diferente, e não o que deveria ser padrão, mas ao contrário do que se possa entender. Se tivesse a oportunidade continuaria nesta era, pois só assim ainda pode haver equilíbrio. E então eu pergunto-te, COMO ÉS TU?!

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