Um estudo feito pela Psicóloga clínica Mangani Fineza Lopes sobre a saúde mental em pleito eleitoral em Angola apurou o estado emocional dos cidadãos durante o tempo de espera dos resultados finais das eleições de 24 de Agosto de 2022.

As eleições presidenciais são fenómenos que afectam quase todas as áreas da sociedade e a saúde não fica de fora, neste caso concreto, a saúde mental. Uma vez que se trata de um momento em que a maioria das pesssoas estabelece uma expectativa sobre o futuro presidente e o quanto as suas decisões poderão afectar directamente as suas vidas, aspectos que não se podem prever, cria no indivíduo uma espécie de angústia antecipada.
Enquanto ocorre o processo que vai desde o anúncio da data das eleições à divulgação dos resultados finais, muitos eventos acontecem. As televisões, as rádios e actualmente as redes sociais também trazem 24/24 horas novas notícias, verdadeiras e falsas, ou as chamadas fake news inerentes às eleições, que vão se tornando temas de conversas informais nas famílias, entre os amigos, colegas ou desconhecidos, nos transportes públicos, etc.. Paralelamente ao dilema das informações verdadeiras versus fake news, há a divulgação de resultados de sondagens eleitorais e outros factores que desencadeam emoções que podem causar mal-estar psicológico dos potenciais eleitores em particular e dos cidadãos em geral. Pesquisas feitas em alguns países do mundo, como Brasil e Estados Unidos da América (EUA) têm mostrado que neste período, o índice de casos de ansiedade, stress, depressão, medo, raiva e não só, têm aumentado, principalmente para aqueles que são afiliados a um dos partidos concorrentes.
Segundo a psicóloga Renata, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o impacte emocional de cada um pode variar de acordo com o desempenho do candidato da sua preferência.
Outro estudo feito nos EUA indicou que um dos factores que aumenta significativamente a ansiendade em pleito eleitoral é o consumo abundante de notícias sobre este processo. A revista brasileira VEJA (2018) apresenta três danos à saúde mental, que o pleito eleitoral pode desencadear, nomeadamente: Depressão moderada caracterizada por perda de apetite e crises de choros (23%), segundo a Universidade da Califórnia num estudo que se fez com 40 pessoas; Stress (86%), de acordo com a Universidade de Michigan, estudo feito com 80 jovens de 14 a 24 anos de idade; e Ansiedade (33%) estudo feito pela Associação de Psicologia dos Estados Unidos.
Em Angola fizemos um estudo breve sobre o fenómeno, sendo que foi aplicada a Escala de Depressão, Ansiedade e Stress (DASS-21), um questionário psicológico com vinte e uma questões, formado por uma escala de 0 a 3 valores que adaptámos para o contexto das eleições. Foi pedido às pessoas para responderem às questões tendo em conta os estados emocionais durante o período de espera dos resultados definitivos das eleições, apresentados dia 29 de Agosto de 2022. Ou seja, as pessoas poderiam expressar como se sentiam durante aquele tempo.
Trata-se de uma pesquisa feita através das redes sociais, aos cidadãos angolanos que vivem em Angola e na diáspora e pessoas de outros países que residem no território nacional. Assim sendo, 44 pessoas responderam ao questionário que mede os níveis de depressão, ansiedade e stress – DASS-21. Sendo que 43% são indivíduos do sexo masculino e 57% feminino, com idades compreendidas entre 18 a 58 anos, residentes em Luanda (84%) e em outras regiões (Uíge, Lubango, Huambo, cabinda, Moxico, Lyon – França) (16%), com os graus académicos médios (5%) e superiores (95%) e em termos de ocupações – 43% são estudantes, 46% trabalhadores e 11% desempregados.

O gráfico 1.1 mostra que a maioria dos inquiridos são mulheres, com 57%, enquanto que a minoria são homens, com 43%.

O gráfico 1.2 indica que a maioria (56%) das pessoas que responderam ao questionário está na faxa etária dos 28 aos 38 anos de idade, enquanto que a minoria (5%) está na faxa estária dos 38 aos 48 anos de idade e de igual modo, os respondentes de 48 aos 58 anos.
Resultados da escala de depressão, ansiedade e stress – DASS-21 aplicada aos cidadãos durante o período de espera dos resultados definitivos das eleições presidenciais em Angola de 24 de Agosto de 2022

O gráfico indica que num total de 100% das pessoas que responderam ao questionário, 45 expressaram o nível de stress moderado, 34 expressaram o nível normal ou sem stress, enquanto que 25 estavam muitos stressados (nível alto).
Isto quer dizer que naquele período de espera dos resultados das eleições, a maioria, 45% dos inquiridos, estava moderadamente stressada e a minoria, com 25%, estava muito stressada.
Este resultado é alarmante, pois mostra que durante aquele período, em cada 10 cidadãos inquiridos, quase três estavam muito stressados e quando olhamos para os indivíduos com níveis de stress moderado, a situação parece um pouco mais preocupante. Porque ao todo 70% das pessoas tinham algum grau de stress desencadeado pelo pleito eleitoral, isto é, 7 em cada 10 pessoas.

O gráfico 1.9 espelha que dos 40 inquiridos, 34% expressaram um nível normal de Ansiendade, 46% estavam no grau moderado e 20% estavam no nível alto. Assim sendo, durante o momento em que se esperavam os resultados finais das eleições, a maioria (46%) das pessoas inquiridas estavam moderadamente ansiosas e a minoria (20%) estava muito ansiosa. De outro modo, pode dizer-se que este resultado é também relativamente alarmante, na medida em que se percebe que 2 em cada 10 pessoas respondentes estavam ansiosas e no caso de juntarmos os que se situam entre os níveis moderados e alto de ansiedade, resulta em 66% das pessoas inquiridas com algum grau de ansiedade, ou seja, cerca de 7 em cada 10.

O gráfico 1.10 mostra que 30% dos inquiridos expressaram um nível normal de depressão, 50% estavam moderadamente depressivos e 20% estavam deprimidos. Ou seja, a maioria das pessoas estiva moderadamente deprimida.
Olhando para os três estados emocionais (stress, ansiedade e depressão) vê-se que a maioria (50%) dos inquiridos apresentou depressão moderada.
Pelo que se percebe, de igual modo é relativamente alarmante, talvez um pouco mais preocupante, por se tratar de um dos quadros mais debilitantes no âmbito dos transtornos mentais, neste caso 2 em cada 10 estavam no nível alto, porém quando se soma com o nível moderado, identificam-se 7 em cada 10 pessoas com algum grau de depressão.
Portanto, durante o período de espera dos resultados definitivos das eleições gerais de 24 de Agosto de 2022, que durou cerca de cinco dias, foi possível perceber que das 44 pessoas inquiridas, através da escala DASS-21, identificou-se que:
No quadro do stress: 30% estavam no nível normal, 45% estavam no nível moderado e 25% estavam no nível alto.
No quadro do stress: 34% estavam no nível normal, 46% estavam no nível moderado e 20% estavam no nível alto.
No quadro da ansiedade: 30% estavam no nível normal, 50% estavam no nível moderado e 20% estavam no nível alto.
O estado emocional em que se registou maior frequência, com 50%, foi a depressão moderada, enquanto que a minoria expressou os níveis altos de ansiedade e depressão, com 20% em ambos os casos.
É importante que se esclareça que estes resultados não podem ser generalizados por conta do número de pessoas (44) que responderam ao questionário no período em causa, mas que serve de sinal para se prestar mais atenção à saúde mental dos cidadãos, de modo a que se possa tomar medidas profiláticas ou até mesmo prestar apoio psicológico especializado.
Por outro lado, este exercício foi muito impotante para constatar através de um instrumento científico, o estado emocional em que as pessoas se encontravam, uma vez que nos pleitos eleitorais as emoções tendem a alterar-se (gerlamente de modo prejudicial) com maior frequência, conforme os estudos conduzidos em outras paragens do mundo.
As pessoas elevam as suas expectativas, vêem-se na obrigação de tomar decisões e estes aspectos fazem com que se alterem as suas emoções, que se traduzem em stress, ansiedade, depressão, raiva, ódio, angústia, ou seja, emerge um certo sofrimento generalizado, diante desta realidade, cada um procura a sua maneira de lidar ou gerir o seu sofrimento emocional, uns fazem-no de forma adequada e outros inadequadamente, no caso destes últimos, trata-se da maioria.
Com isso queremos dizer que a forma mais adequada seria consultar um especialista de saúde mental (psicólogo ou psiquiatra) para que possa proporcionar o apoio especializado necesssário e é desencorajado o recurso ao álcool e outras drogas, automutilação, violência ou agressão, suicídio (o caso mais extremo), pois são absolutamente inadequados.
Estudos como este permitem saber (e não meramente supor) como a sociedade vai em termos de saúde mental. Neste caso, embora o número da amostra desta pesquisa pareça insignificante, é fundamental que se preste atenção aos resultados, na medida em que se nota uma tendência crescente da frequência de pessoas que expressaram stress, ansiedade e depressão num nível moderado, o que quer dizer que há que se ter muito cuidado com o bem-estar mental porque de contrário pode passar para os níveis altos, ou seja, podem desencadear o adoecimento.
Como forma de recomendação para prevenção ou gestão de emoções exacerbadas, em pleitos eleitorais e não só, é fundamental que se mantenha o mais afastado possível das redes sociais, ser selectivo no consumo de notícias e nas suas fontes, evitar debates que levam a confrontos ou brigas, continuar a fazer actividades que dão prazer e relaxantes, evitar o máximo possível atencipar situações que ainda não aconteceram, porque a tendência é que a pessoa exagere ou distorça subjectivamente os acontecimentos, ao nível do pensamento, portanto que seja mais realista e aceite o modo como as coisas acontecem, assim poderá tomar melhores decisões e manter equilibrada a saúde mental.
Em caso de desconforto emocional, procure um profissional de saúde mental, isto é, psicólogo clínico ou psiquiatra.
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