O Setembro Amarelo está a despedir-se, mas a prevenção ao suicídio continua

Celso Gamboa
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Saiba que palavras deve dizer a quem estiver a enfrentar esta doença

Lembrado anualmente no dia 10 de Setembro, o suicídio é o acto de tirar a própria vida.  Este ano de 2023, a campanha do Setembro Amarelo teve como lema “criar esperança através da acção”, refletindo a necessidade de acção colectiva para resolver este problema urgente de saúde pública. “Não dá para reduzir o suicídio puramente a uma questão individual, ele é atravessado por factores sociais, políticos, económicos e ambientais”, destaca o psicólogo Maycon Rodrigo Torres, no site Saúde Mental.

Os transtornos mentais são o factor de risco mais preocupante, podendo incluir depressão e transtorno por uso de drogas e alcoolismo, por exemplo. A falta de conhecimento é um empecilho para quem deseja ajudar pessoas próximas em sofrimento psicológico. E a escolha de palavras faz toda a diferença.

Cada caso é único e o suicídio pode acontecer de maneira abrupta. No entanto, boa parte das vezes, há pistas que antecedem o acto. Nesse contexto, conhecer os indícios da necessidade de socorro especializado é importante para de facto ajudar pessoas em situação crítica. Além disso, a escolha das palavras é parte essencial do apoio.

Como conversar com as pessoas que ponderam o suicídio:

Uma pessoa em risco tende a falar sobre a morte com frequência; revelar falta de esperança; além de demonstrar culpa excessiva, ou uma visão negativa e sem perspectivas para o futuro.

O primeiro passo para uma conversa é encontrar um ambiente calmo, preferencialmente aconchegante e com privacidade, sem interferências externas, ou possibilidades de interrupção.

Comece o diálogo com questões mais amplas e aprofunde daí. Não tenha medo de perguntar, ou de usar a palavra “suicídio”, se estiver com dúvidas quanto à segurança, ou às intenções da pessoa, pergunte.

Além das frases em si, a forma de se dirigir ao outro também é importante. O tom da conversa deve ser empático e calmo. “Pode introduzir o assunto falando sobre percepções do comportamento: ‘estou a ver que estás mais triste, isolado, calado. Percebo que não estás bem, queres conversar sobre isso?’ é uma forma de abrir espaço para que a pessoa se sinta à vontade para falar sobre o que está a sentir”, explica Maycon.

Deve evitar proferir estas palavras a quem está a passar por este problema:

– “Quem quer mesmo matar-se, consegue.” Pessoas que suicidam estão em sofrimento grave e não vêem alternativas. Não se deve julgar a pessoa em crise;

– “Pessoas que se suicidam são fracas e egoístas.”.

 Quem tenta o suicídio está a indicar um sofrimento importante que precisa de atenção e cuidado;

– “Quem tenta o suicídio só quer chamar a atenção.” A pessoa que fala sobre o suicídio pode estar dar indícios de alto risco e deve ser sempre ouvida;

– “O suicídio é um acto de covardia.” O suicídio não é um acto de coragem, ou covardia. Está mais relacionado com o desespero como um sentimento insuportável.

“Durante a conversa, também é preciso tomar cuidado para não invalidar o sofrimento da pessoa”, segundo o psicólogo Maycon Rodrigo Torres. “Discursos com frases do tipo ‘isso é burrice’; ‘pensa noutra coisa’; ‘existem pessoas com problemas piores do que o seu’ são extremamente prejudiciais porque anulam o que o indivíduo está a sentir. Deve ser uma abordagem franca, directa e que reconheça que o sofrimento da pessoa é legítimo”, diz Torres.

 Todos nós (familiares, amigos, colegas de trabalho, membros da comunidade, educadores, líderes religiosos, profissionais de saúde, responsáveis políticos e governos) devemos tomar medidas para prevenir o suicídio nas comunidades.

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