Racismo estrutural: por Nicole Lagrifa

Ndongala Denda
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Racismo estrutural é o termo usado para reforçar o facto de que há sociedades estruturadas com base na discriminação que privilegia algumas raças em detrimento das outras. Em Angola, nos outros países Africanos, na América e nos países Europeus, essa distinção favorece os brancos e desfavorece as pessoas de raça negra.

Ainda hoje existe racismo?
Sim. Por mais que as leis garantam a igualdade entre os povos, o racismo é um processo histórico que modela a sociedade até hoje. Uma prova disso é o contraste explícito que existe nos altos cargos de Empresas Multinacionais, por exemplo.

E a lei não é suficiente para resolver o problema?
Infelizmente não. Racismo é algo maior do que discriminação ou preconceito. Diz respeito a formas nem sempre conscientes e também colectivas de desfavorecer minorias étnicas e privilegiar os brancos.

Em sociedades como a Africana ou Europeia, o racismo determina a forma como pensamos. Assim, a cor da pele significa muito mais do que um traço da aparência. Ela é associada a capacidades intelectuais, sexuais e físicas. É como se ser de raça negra estivesse associado a qualidades físicas apenas (a dança, os desportos, o trabalho pesado), e não intelectuais. E esse problema vai muito além dessas imagens silenciosas.

Isso significa, então, que somos todos racistas?
Em parte sim. Afinal, por mais consciência que tenhamos, vivemos numa sociedade alicerçada em estruturas racistas. Imediatamente, não há como fugir disso. Mas essa não precisa de ser uma realidade perene. Primeiro de tudo, é urgente que pessoas de raça branca reflitam, identifiquem e reconheçam os seus privilégios em algumas situações. O que não é uma tarefa fácil. Um bom começo é olhar para a própria história e perceber em que situações uma pessoa de raça branca teve vantagens. Durante a disputa por uma vaga de emprego em que as duas pessoas tinham qualificações muito semelhantes, mas o negro foi dispensado, no arrendamento de uma residência, na forma como é atendido num espaço comercial…

Uma outra atitude é deixar de usar palavras e termos que tiveram origem na discriminação entre brancos e negros: “tens bom ventre”, “adiantou a raça“, “não pareces Africano“, “a coisa está preta“, “tem cabelo ruim”, entre outras. Por mais que, conscientemente, elas sejam usadas sem uma intenção racista, o facto de ainda estarem em uso mostra o quanto o problema está enraizado nos nossos costumes.

Por mais que o debate e o combate tenham evoluído, tanto com a criação de novas leis e políticas públicas, quanto com a conscientização sobre como o racismo é um elemento que integra a organização econômica e política das sociedades – é discutindo e debatendo pontos de vista que caminhamos rumo à democracia racial.

O termo estrutural não significa dizer que o racismo é uma condição incontornável ou que a trilha anti-racismo feita até aqui seja inútil. Muito pelo contrário. Mas, mais que entender que fazemos parte de um sistema racista, é preciso que conversemos a respeito, pois o silêncio torna-nos responsáveis pela sua manutenção.

Portanto, as desigualdades sociais, que têm cor um pouco por todo o mundo, são reafirmadas em momentos como este, de Pandemia. Embora o racismo estrutural, por óbvio, não tenha tido o seu início com a pandemia, é por meio dela que a preservação de vidas negras torna-se ainda mais fragilizada. É ela que tem colocado corpos negros desde há muito tempo na linha de frente. Assistimos ao flagelo dos Estados Unidos, do Brasil, de Espanha e da Itália, onde as populações desfavorecidas e negras fazem parte dos grupos mais vulneráveis.

A população negra está submetida a um processo de vulnerabilidade em cadeia, é uma sucessão de negligências, daí reforçar sempre a importância da valorização e defesa do Sistema Único de Saúde, um sistema projectado para atender a todos de forma íntegra e justa.

Nicole Lagrifa
Filosofia Científica
Mestre em Gestão de Recursos Humanos
Especialista em Psicologia do Luto

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