É quase impossível não mencionar este nome, quando o assunto é falar sobre maiores acervos a nível de África, pois bem, trata-se de Sindika Dokolo, filho de pai congolês e mãe dinamarquesa, nasceu em 1972 no antigo Zaire porém passou a maior parte da sua infância na Europa, especialmente na Bélgica e em França.
O seu pai, Augustin Dokolo, foi o primeiro homem negro a criar um banco em África no fim dos anos 60. Por este facto, “É conhecido como o empresário mais bem-sucedido do Congo desde a sua independência”, daquilo que se sabe.

Sindika herdou do pai não só o dinheiro, mas também o gosto pela arte, que mais tarde o faria dedicar ao colecionismo. Estava a nascer aí um nato empresário que estaria por detrás de um dos maiores acervos de África.
Sindika em entrevistas, sempre fazia questão de contar que a mãe fazia questão de o levar a todos os museus da Europa e que o pai tinha já várias obras de arte africana. Foi também o pai que o levou a prosseguir a formação em economia, comércio e línguas estrangeiras em Paris.

De tudo que se sabe, o empresário começou a dedicar-se seriamente na área da arte logo aos 15 anos, quando iniciou a constituir uma coleção de arte africana com a ajuda do seu pai.
Mais tarde herdou algumas das peças da sua coleção e acabou por criar a Fundação Sindika Dokolo, em Luanda, para promover a cultura e a arte a nível do continente e noutros países.
Um colecionador nato de arte africana

Em 1995, Sindika decidira voltar ao antigo Zaire para entrar nos negócios da família: um total de 17 empresas (banca, pecuária, pesca, exportação de café, imobiliário, distribuição de bens de consumo, transporte de mercadorias, impressão, seguros, mineração e venda de automóveis), todas na altura criadas pelo pai.
Contudo, infelizmente, o país entrou em colapso e as empresas foram posteriormente nacionalizadas pelo Governo do Zaire, em 1986, liderado pelo antigo Chefe de Estado, Mobutu Sese Seko. Depois do falecimento do pai, em 2001, Sindika tomou em mãos os negócios da família.
Em Angola, Sindika Dokolo constituiu a Fundação Sindika Dokolo, com objetivo de criar um centro de arte contemporânea em Luanda, não apenas peças de arte contemporânea africana, mas o de providenciar as condições e atividades necessárias para integrar os artistas africanos nos círculos internacionais do mundo da arte.

Sindika acreditava que o seu envolvimento no domínio das artes não tinha por objetivo ser reconhecido como um grande colecionador, mas antes “dar a conhecer ao mundo os artistas africanos”.
A Fundação tinha por princípio emprestar gratuitamente as obras da colecção a qualquer museu internacional desde que, em contrapartida, esse museu apresente a mesma exposição num país africano à sua escolha.
Sindika através da sua fundação, fez a gestão da trienal de Luanda no palácio de ferro. Conquanto, isso permitiu dar um grande avanço no que toca a valorização cultural nacional.
A sua gestão foi de extrema importância, pois foi através da trienal que boa parte das exposições internacionais dos último 5 anos passaram por Angola.
A Trienal de Luanda é um projeto cultural existente há dez anos, visa promover a cultura e arte da capital angolana, em particular, e de Angola no geral, através de exposições, conferências e publicação de livros.
Na estrada da construção de um dos maiores acervos de África

Sindika Dokolo começara com exposições como o Observatório SD (julho de 2006 – agosto de 2006) no Instituto Valenciano de Arte Moderna, em Espanha, a Trienal de Luanda (dezembro de 2006 – março de 2007), ou o Check List Luanda Pop (junho de 2007 – novembro de 2007) na Bienal de Veneza, em Itália.
Quando o colecionador alemão Hans Bogatzke faleceu, o curador Fernando Alvim propôs a Sindika Dokolo que adquirisse o seu acervo de 500 peças.
As peças foram compradas por um preço baixo, porque a viúva de Hans Bogatzke, embora gostasse muito do marido, não gostava da colecção e agradava-lhe a ideia de se desfazer dela e, ao mesmo tempo, saber que ela seria mostrada em África.
Com o objectivo de expor ao público africano a produção de arte contemporânea, Sindika Dokolo levara a sua coleção até Luanda, em eventos regulares.
Em 25 de janeiro de 2010, realizou uma exposição de grande envergadura, denominada Luanda Suave e Frenética, por ocasião do 434º aniversário da cidade de Luanda.

Em dezembro de 2013, Sindika Dokolo marcara presença na inauguração da VII Bienal de São Tomé e Príncipe, exposição internacional de arte daquele país, na qual foram expostas obras da Fundação Sindika Dokolo.
Dokolo, entre outras filosofias, considerava que a sua coleção era uma “a mais-valia da cena artística africana contemporânea dando uma perspetiva sensível e inteligente de um continente em plena mutação”.
Argumentando que, em termos demográficos, em 2050 existirão 25% mais africanos que chineses e, no plano económico, assiste-se a um “crescimento estrutural do continente africano”, aspetos estes que estavam no seu entender projetar o continente africano no futuro.

Em 2014, Sindika Dokolo participara na maior feira mundial de arte africana, a “1:54”, que decorrera em Londres e que contou, na altura, com a participação de diversas personalidades, entre as quais Lupita Nyong’o.
Neste evento foram vários os artistas e celebridades, como a modelo Alek Wek ou o cantor Keziah Jones, que manifestaram publicamente o seu apoio e agradecimento pelo trabalho do colecionador, destacando o papel que a Fundação Sindika Dokolo desempenhava no desenvolvimento da arte contemporânea africana.
À margem desta participação, Sindika Dokolo, na altura, em entrevista à New African Magazine, falou sobre os projetos para Angola e a forma como “a arte contemporânea africana deve estar acessível aos africanos e ter impacto nas suas vidas”.

Em março de 2015, Sindika Dokolo foi distinguido com a Medalha de Mérito pela Câmara Municipal do Porto, a propósito da exposição de arte contemporânea You Love Me, You Love Me Not.
Esta homenagem foi um reconhecimento da cidade pelo contributo de Sindika Dokolo, que permitiu à cidade do Porto desenvolver um dos projetos mais relevantes no âmbito da arte contemporânea da atualidade, ajudando a estabelecer uma ponte singular entre a cidade e o mundo.
A exposição contava com obras do acervo do colecionador de arte e reúnia meia centena de artistas (nem todos africanos). Trata-se da mais importante mostra da coleção da Fundação Sindika Dokolo alguma vez concretizada e é considerada a maior coleção de arte africana existente.
Sindika Dokolo lançara uma campanha mundial que pretendia devolve a África, as peças de arte vendidas ilegalmente durante o período colonial. Para começar, a Fundação Sindika Dokolo entregou a Angola duas máscaras e uma estatueta do povo Tchokwe, que tinham sido saqueadas durante o conflito armado, recuperadas após vários anos de negociação com colecionadores europeus.
O ativismo político na arte

Ainda que seja visto por muitos como parte do establishment político e social de Angola, Sindika Dokolo assumia-se como ativista nas duas áreas. Primeiro porque afirmava ser alvo de perseguição tanto no seu país de origem, onde já foi acusado de fraude, como naquele que o acolheu depois do casamento, depois porque via na arte um meio de defender a sua identidade africana.
Era igual modo, também um defensor acérrimo da restituição das obras de arte aos países a que pertencem, nomeadamente a arte africana que continua espalhada pela Europa. Para além de nato colecionador de arte, um empresário de sucesso a nível de África.
Sindika Dokolo teve negócios de vulto na República Democrática do Congo, mas foi em Angola que teve a sua principal base de negócios. Foi membro do conselho de administração da empresa cimenteira angolana Nova Cimangola, e também da portuguesa Amorim Energia.
O colecionador de arte investiu ainda em vários sectores, nomeadamente diamantes, petróleo, imobiliário e telecomunicações, em Angola, Portugal, Suíça, Reino Unido e Moçambique. Na visão de Sindika, o colecionador pretendia criar “um eixo Luanda-Kinshasa que poderia criar um contrapeso para a supremacia sul-africana”.

Sindika era conhecido entre a família e os amigos como uma pessoa modesta, realista e genuína, com uma grande paixão pela família, pelos negócios e pela arte.
Lamentavelmente, o mundo e a África em particular, acorda de luto ao aperceber-se do passamento físico de Sindika Dokolo, que morreu em 29 de outubro de 2020, aos 48 anos de idade, vítima de embolia pulmonar, depois de ter estado a praticar mergulho com a família no Dubai.
Empresário e colecionador de arte, Sindika Dokolo era casado com Isabel dos Santos, empresária e filha do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos, com quem tinha quatro filhos.
Sindika Dokolo foi de facto um dos maiores colecionadores a nível de África. Até ao momento, detém uma das mais importantes coleções de arte contemporânea africana, atualmente com cerca de três mil obras.
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