Entrevista com Bruno Fernandes: “em casa minha, sexualidade nunca foi problema”

Janilson Duarte
12 Min Read

Bruno Fernandes descreve-se como sendo uma pessoa simples, educada, batalhadora, trabalhadora, alegre por demasia e optimista, apesar das dificuldades.

Filho da conceituada jornalista Bem-vinda Maria Fernandes, em memória, Bruno Fernandes é um apresentador que sabe o que quer e gosta de viver, e viver em paz e em boa harmonia com todos ao seu redor.

Apresentador dos programas “Ta-se Bem” e “Polémica”, da Palanca Tv, Bruno é jornalista, promotor de eventos e Técnico de Marketing.

Numa entrevista bastante descontraída com a Chocolate, abordamos um pouco a sua entrada no mundo da Comunicação Social, a sua infância e o seu activismo na comunidade LGBT.

Como foi a sua infância?

R: A minha infância foi muito boa, sou de Benguela, Lobito, cresci com muito amor e bons valores, boa educação dada pelos meus pais, avós.

Brinquei muito, achava que nunca iria deixar de brincar, fui escuteiro, participei sempre em várias actividades sociais desde de criança, foi uma infância tão boa que podia voltar várias vezes sem conta.

O que representa a sua mãe na sua vida?

R: A minha mãe representa tudo o que eu sou, a minha mãe é a minha inspiração, o meu amor maior, o meu ídolo, melhor exemplo de vida e graças.

Graças ao amor que ela sempre me deu e a força,  hoje vivo um sonho dela e meu, de estar a trabalhar em algo que gosto, que é Televisão, apesar da minha mãe já não ser viva, para mim foi e será sempre a melhor coisa que me aconteceu, ter sido filho dela, ter podido viver com ela quase vinte anos.

Sinto uma falta imensa, mas ao mesmo tempo sinto-a comigo em todos os momentos, é só fechar os olhos e a minha mãe aparece para mim.

Quando é que despertou o amor pela Comunicação?

R: O amor pela Comunicação Social despertou muito cedo, porque a minha mãe foi jornalista da Rádio Lobito, modéstia à parte, uma grande jornalista, de uma voz sem igual.

E eu ouvia os programas de rádio que ela fazia, ouvia quando ela mandava notícias via telefone a partir de casa para a Rádio Nacional e era muito top ouvir, e a paixão que ela nutria por esse trabalho levou-me a apaixonar-me por comunicação.

Além de ela me levar algumas vezes aos estúdios, deixava-me ler pequenos textos de história infantil.

Eu achava aquilo um sonho e o amor só aumentou e hoje sigo os passos dela.

Há quanto tempo é apresentador?

R: Sou apresentador de TV há 4 anos, fiz 4 anos em Junho, a minha primeira aparição como apresentador de Televisão foi a 26 de Junho de 2017, nunca vou esquecer essa data, por ser a data de uma das maiores realizações da minha vida, realização do meu sonho da vida toda e da minha mãe.

Quem o impulsionou?

R: Para ser sincero, parar na TV foi por ironia do destino, porque quando vim viver em Luanda, devido à velocidade de vida na capital e a falta de oportunidade, eu já tinha desistido de trabalhar em TV.

Comecei a fazer uns trabalhos num salão de beleza, na área de Marketing, e fui falar de perucas em várias TVs, e quando fui à Palanca Tv, depois de dois programas foi-me feito o convite para um casting de apresentadores e qual  fiquei um pouco indeciso em fazer, mas acabei por fazer mesmo com o frio na barriga, e felizmente correu bem e cá estou até hoje .

Quais são as suas referências no ramo da Comunicação?

R: As minhas referências na Comunicação Social são poucas, mas em primeiro lugar a minha mãe, por ter sido uma jornalista com brio e alguém que fazia com muita paixão o seu trabalho e bebia o jornalismo, Almir Agria, Mirito Brinquinho, na altura de Benguela, na rádio Morena, era um dos maiores radialistas lá, Mara Dalva, amo, Paulo Miranda, Sérgio Rodrigues, Ernesto Bartolomeu, Jorge Gomes,  Vânia Varela, se for a enumerar não termino hoje,  Jô Soares e Luciano huck… são essas para mim.

Sempre desejou apresentar um programa com o formato do “Polémica”?

R: Não, o “Polémica” nunca foi o tipo de programa que sonhei apresentar, sonhei com um programa de entretenimento, de entrevistas, contar histórias de vida, animação, diversão, música.

O “Polémica” foi o primeiro convite da TV, e aceitei com muito gosto, apesar de ser um programa que te desafia muito, e claro deixa algumas pessoas descontentes, porque falamos de pessoas, acções não muito boas, e às vezes gera um mau clima, porque a verdade dita na tela nem sempre é bem recebida, mas faço com muito gosto e hoje me identifico muito com o programa.

O que mais gosta do seu programa?

R: O que mais gosto no “Polémica” é a liberdade que tenho de ser quem eu sou, falar do meu jeito, claro, com respeito, gosto do facto de ter uma equipa de trabalho unida e de muita cumplicidade.

E gosto de poder dizer o que acho, quer gostem ou não, aí estou a fazer o meu trabalho e vou causar polémica, eu vou falar com muito gosto (risos).

É uma pessoa bastante polémica?

R: Nada (risos), não sou uma pessoa polémica, sou tranquilo, tanto que nestes 4 anos, nunca estive envolvido em nenhuma polémica e tenciono não estar, eu gosto de estar bem, não gosto de “dar show” e se não notarem a minha presença, melhor ainda.

Considera-se um activista da comunidade LGBTQ+?

R: Sim, um activista pacífico da comunidade LGBTQ+, pertenço a uma associação íris Angola, que luta a favor das minorias sexuais e faço essa luta com muito prazer porque é a minha verdade.

Como têm sido as suas lutas para a comunidade?

R: As minhas lutas são mostrar a minha cara para o mundo sem me esconder, fazer parte da associação, fazer palestras, encontros, promover outros eventos e consciencializar famílias sobre o que é a homossexualidade, bem com levar esse assunto a debates televisivos para que se fale cada vez mais dele.

Sempre teve apoio familiar?

R: Felizmente, eu tive os melhores pais do mundo, desde muito cedo a minha mãe conversou comigo e em casa a minha sexualidade nunca foi problema, eu nunca fui tratado de forma diferente por ser gay na minha casa.

Por isso, sou essa pessoa muito livre, muito à vontade no mundo como costumo dizer, porque tive bases muito sólidas em casa, como amor, respeito, saber quem eu sou, e me amar sempre acima de todas as circunstâncias e aprender a contar com os outros e saber que tenho família e amigos que me amam.

Sofre preconceito por ser o que é?

R: Digamos que algum preconceito sim, mas nada com que não possa lidar, sou adulto, bem resolvido com minha sexualidade, minha mente, sou gay sim todos os dias, aceito-me, essa é a minha verdade.

Se alguém falar disso na minha cara, o que não acontece, vou responder com toda a calma, porque todos temos uma luta na vida, luta pelo racismo, gordofobia, albinismo, então esse preconceito sempre vai haver.

E eu já aprendi a lidar há muito tempo, para ser sincero nunca me afectou, porque sei responder à letra, não vou triste para casa, comigo é “deu, recebeu na hora”, é automático (risos).

Como acha que a nossa sociedade encara a comunidade LGBTQ+?

R: Já encarou com mais estranheza, agora as pessoas tendem a aprender a olhar com menos julgamento, mas ainda há muito preconceito, mas as pessoas estão a aprender a conter-se, e também a comunidade LGBTQ+ está cada vez mais activa, não se escondem, dão a cara, e com a aparição de homossexuais em rádios, TVs, redes sociais e mesmo no dia-a-dia de cada família, tem ajudado a mudar o quadro.

Qual é o seu maior sonho?

R: Vou lhe ser sincero, todos os sonhos que tinha, já realizei, estou muitíssimo satisfeito com o que vivo, se calhar podia dizer que o meu maior sonho é continuar a ser feliz até ao dia da minha partida para junto dos meus pais.

É muito vaidoso?

R: Um pouco, gosto de escolher as minhas roupas ao detalhe, os meus cortes de cabelo, gosto de me olhar no espelho e gostar do que vejo, gosto de cuidar de mim, mimar-me (risos).

Acompanha as tendências?

R: Sim, um pouco, não sou fixo nisso, porque para mim moda e tendências nós é que criamos e eu tenho gostos próprios e claro que bebo um pouco das tendências, que são cada vez mais top.

O que não pode faltar no seu guarda-fato?

R: Camisas com estampa, calças jeans, calções curtos, botas, sem eles esquece, não vai me cuiar (risos).

Cor favorita?

R: Preto, amo essa cor, realça muito a minha aparência, deixa-me mesmo muito poderoso, fico muito top.

Que peça de roupa gostaria de experimentar e nunca teve coragem de usar?

R: Não tenho nenhuma peça de roupa que quis experimentar e nunca tive coragem, todas as que quis usei, felizmente (risos), sou atrevido, decido e não me anulo para agradar outrem, se eu quiser, eu uso de boa.

Qual é a sua filosofia de vida?

R: Ser livre, ser feliz sempre, fazer o bem sem olhar a quem, fazer e viver a minha verdade sempre sorrindo, porque faz bem à pele e ao espírito (risos).

Share this Article