Estilista Issey Miyake, o génio do plissado, morre aos 84 anos

Janilson Duarte
7 Min Read

Ícone no mundo da moda, o estilista Issey Miyake notabilizou-se pelo plissado e a busca pelo conforto, fugindo da ideia da grandiosidade da alta-costura em favor do que ele chamava “simplesmente fazer as coisas”.

O estilista Japonês morreu aos 84 anos, na última sexta-feira (8), vítima de um cancro no fígado, segundo a agência de notícias Kyodo, embora a notícia tenha sido divulgada nesta terça-feira (9). 

Miyake deixou uma marca no mundo da moda: ele ficou conhecido como o homem que uniu o Ocidente ao Oriente através da moda, pelo seu famoso estilo de tecido plissado que nunca amarrota e a icónica camisola preta de gola alta de Steve Jobs.

Quando mais pequeno, Miyake desejava ser dançarino e atleta, mas foi por observar as revistas de moda de sua irmã que ganhou o desejo pela mesma, o que significou um novo rumo para a sua vida.

Miyake ascendeu na moda na década de 1980. Euando demonstrou toda a sua criatividade desenvolvendo itens de luxo com o famoso plissado, ele usou uma técnica diferente baseada na junção de tecidos entre camadas e inserção deste numa prensa técnica, algo inédito que lhe  valeu alguns clientes fieis, dentre eles o empresário Steve Jobs.       

Uma tragédia que mudou tudo

Em entrevista ao New York Times, o estilista contou como se sentiu naquele momento: “Quando fecho os olhos, ainda vejo coisas que ninguém deveria vivenciar”.

Na altura com 7 anos, Miyake testemunhou quando a bomba atómica caiu na sua cidade natal, em Hiroshima, numa sala de aula. Daí em diante, ele preferiu manter-se calado sobre este episódio traumático até 2009, preferindo assim enquanto estilista canalizar toda a lembrança má da tragédia para as suas criações, “Tentei, embora sem sucesso, deixá-los para trás, preferindo pensar em coisas que podem ser criadas, não destruídas, e que trazem beleza e alegria. Isso é, moderno e optimista”, disse ao mesmo jornal.     

A trajectória de Issey Miyake

O seu nome, Issey Miyake, traduzido diz tudo: “uma vida ou três casas” – termos apropriados para descrever o estilo de vida único, de uma trajetória marcada pela infinidade criativa do artista.  

Issey Miyake mudou-se para Paris antes de se formar em Design Gráfico, na Universidade de arte de Tama, em Tóquio, Japão, no ano de 1964.

Já em Paris, o estilista estudou na tradicional Escola da Câmara da União de Alta Costura Parisiense. Também foi em Paris que Miyake se tornou aprendiz com grandes nomes da alta-costura – Hubert, de Givenchy e Guy Laroche. De seguida Miyake mudou-se para Nova Iorque, onde trabalhou como auxiliar de Geoffrey Beene.

Depois de um tempo fora, Miyake retornou à sua terra natal, Japão, em 1970, para dar início ao Miyake Design Studio. As suas criações giravam em torno da união do Oriente e o Ocidente: usando técnicas antigas de bordado e tatuagem, o artista considerava-se mais do que um estilista, mas um designer de moda procurando estabelecer a relação entre o corpo humano e a roupa que o envolve – seguindo a filosofia de que as suas criações são 80% dele e 20% de quem as usa.

Miyake fugiu do tradicional, dando vida aos seus desenhos, envolvendo diferentes profissionais nos seus trabalhos – modelos, dançarinos bem com acrobatas – o objectivo do estilista era a análise do espaço entre o corpo humano e os tecidos. As peças romperam com as linhas de modelagem tradicionais.

Miyake foi visto pela indústria como crítico demoda, tal qual os seus professores, trouxe um conceito que marcou para sempre a indústria.

A sua primeira colecção, lançada em 1995, focava-se nas peças pintadas à mão de técnica tradicional da tatuagem japonesa.

Uma das suas principais colecções é a da tecnologia em movimento, na colecção de primavera de 1995, onde nas passerelles as modelos ficavam paradas enquanto os vestidos balançavam de cima para baixo.

Outro clássico são a bolsa boa bao, estampa com triângulos coloridos; e as linhas lançadas 1993, as Pleats Please.

Além da moda, colaboração e a eternização do ícone da moda

Em 1992, ele apresentou L’eau d’Issey, uma fragrância floral para mulheres que terminava em um aroma amadeirado da primavera. O perfume foi criado por Jaques Cavallier e o frasco foi desenhado por Mr. Miyake (com Fabien Baron e Alain de Mourges) – um cone de vidro invertido esguio e minimalista com uma tampa em prateado fosco acentuado com um orbe. Foi inspirado pelo vislumbre de Miyake da lua a nascer sobre a Torre Eiffel numa noite em Paris.

A sua colaboração com o fotógrafo de moda Irving Penn resultou em 2 livros que girou o mundo todo.

Issey Miyake ficou conhecido mundialmente como o génio do plissado, uma técnica que trouxe de volta do século XX. Mas era talvez mais conhecido como um designer cujos estilos combinavam a disciplina da moda com tecnologia e arte. Em 2000, lançou outra colecção destinada a simplificar a confecção de roupas, eliminando a necessidade de corte e costura do tecido.

Em 1998, Issey Miyake reformou-se como director criativo. O estilista passou a concentrar-se em projetos de pesquisa e experimentação de materiais.

Em 20214 Miyake comentou o seguinte a respeito das suas criações (o que reflete o legado do homem que mudou por completo a forma como nos vestimos):

“Estou mais interessado nas pessoas e na forma humana”, disse Miyake ao The Times. “A roupa é a coisa mais próxima de todos os humanos”.

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