Ele também teve de se reinventar, quando largou a sua agência de design em 2012 para viver a sua real paixão na TEDx, a plataforma que há mais de uma década mudou a sua vida e de mais pessoas que como Januário Jano acreditam em algo que possa envolver o público e desafiá-lo a começar a pensar e agir em vez de reclamar.
O evento TEDxLuanda 2023, organizado localmente sob a orientação do TED, vai na sua 6.ª edição, sob o tema “Tocando as Estrelas”. A seguir, a conversa com o curador e fundador Januário Jano a respeito da plataforma gigantesca que é a TEDx.

A TEDxLuanda foi realizada pela primeira vez em 2012. Durante este período como tem sido a experiência?
A TEDxLuanda tem sido positiva, porque se não fosse algo que nos desse prazer, em primeiro lugar já deixaríamos de o fazer, em segundo lugar, se não estivesse a ser positivo, se não estivesse a afectar as pessoas, ajudá-los a realizar os seus sonhos e projectos não faria sentido continuarmos.
Se estamos até aqui, mesmo após a pandemia da COVID-19, com vontade de continuar a fazer o evento, é porque o resultado vale a pena. Isso é gratificante para nós, porque a nossa preocupação é fazer o melhor que podemos para melhor a nossa comunidade. Durante este período tem sido gratificante e positivo o que temos feitos.
A audiência da plataforma TEDxLuanda é positiva e desejam que continue. A TDxLuanda transcende o Januário, a comunidade existente é maior que o Januário. As pessoas pertencentes a ela têm a mesma vontade e objectivo de fazer este tipo evento e colher os resultados.
Como foi o processo de trazer o formato TEDx para Angola? E como são realizados os eventos neste formato?
Trazer o evento para Angola foi uma decisão pessoal. Isto devido a certos desafios que me deparei quando regressei para Angola, no contacto com a juventude notei existirem certas áreas em que os jovens necessitavam de incentivos para puderem fazer coisas fora da caixa. Sem necessariamente de dependência ou incentivos governamentais.
Para tal, não havia projecto algum que apontava para este caminho ou que mostrasse que era possível. As pessoas andam habituadas em seguir uma única direcção – estudar para conseguir um trabalho – quando assim acontece numa sociedade é perigoso. As pessoas devem estar dispostas a se reinventar, o que não era o nosso caso, porque as mentes estavam formatadas.
Era preciso desconstruir este pensamento. Com isso, não havia coisa melhor do que trazer uma plataforma como o TEDx. Angola tem muitas cabeças que estavam não polidas.
Os eventos nestes formatos são iniciados sob uma licença da organização TED, o evento maior que acontece nos Estados Unidos e recentemente no Canada. Devido o seu impacto, houve a necessidade de se criar outros eventos do mesmo formato em países diferentes, os chamados TEDEx.
Seguindo este formato, de forma independente, fazemos a curadoria, escolhemos os temas a serem abordados, procuramos os intervenientes que se adequem a temática a abordar, porém, tudo olhando no desenvolvimento e empoderamento da nossa comunidade e não necessariamente de outras realidades.
Sob a calçada de tal licença tem de ser seguida certas regras sob a pena de remoção. É exigido que se faça o que chamamos mestrado para estar por dentro do ADN do formato TED. Há regras e condições que devem ser consideradas e acaba por ser desafiador em Angola por falta de apoios.
O sucesso do evento TEDEx depende em grande parte dos oradores. Como é feita a selecção?
Com a equipade pesquisa seguimos alguns critérios para a escolha dos oradores. Por exemplo, é contra as regras do TEDEx a promoção de ideologia religiosa, política, tráfico de armas, falsos cientistas que se auto-intitulam salvadores da humanidade sem provas factuais do que dizem. Em suma verificamos os factos, levando tempo.
E ao escolher os oradores, não procuramos somente aqueles que já conseguiram resultados excelentes, também aceitamos pessoas que sonham, pessoas que são genuinamente sonhadores, pessoas que contam histórias, que nos remetem no passado e sugerem o caminho que devemos caminhar no futuro.
Procuramos pessoas que estão a criar projectos fantásticos, mas que não estão obcecados com a ideia de se expor. Contudo, desejam que a sua ideia se faça sentir pelas pessoas. Pessoas criativas, mas acima de tudo humanistas.
O tema para este ano é “Tocando As Estrelas”. O que nos aguarda?
“Tocando as Estrelas” parte do princípio após termos sobrevivido ao evento que mudou o rumo e o destino da condição humana. O pós-pandemia apresenta-nos desafios muito importante, partindo dos grandes desafios do século que merecem a nossa atenção, ideias que precisam ser desconstruídas.
Falemos da tecnologia, por exemplo, do acesso à tecnologia de ponta. Este acesso tem um centro, o ocidente, fora dele tudo vem aos bocados. Existe também as políticas, as guerras de legitimação e também o acesso brutal a Inteligência Artificial.
São discussões que achamos que fazemos parte, por isso colocámo-nos apenas no lugar de consumidor. Trazemos este tema para começarmos a questionar estas questões, invés de nos posicionamos somente como consumidores temos que passar a nos engajar como criador. E questionamos nós: o futuro de que tanto se aguarda, chega quando? O que é o futuro, será o presente? Eis a questão, está a acontecer coisas que as pessoas dizem é para o futuro. Sermos submissos a isto, seria o mesmo que aceitarmos a colonização. Estas questões devem ser discutidas.
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