(Grande entrevista) Albertina Kassoma: “quero ser lembrada como alguém que inspirou gerações”

Celso Gamboa
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Albertina Kassoma, considerada uma das melhores pivôs do mundo, foi eleita a MVP da partida entre Angola e Coreia do Sul, realizada este domingo. A camisola 10 da equipa nacional elevou mais uma vez as ” pérolas africanas” facturando 12 golos no encontro que ditou a victória das angolanas sobre as sul coreanas por 33-31, em Trondheim.

Durante a entrevista concedida à revista chocolate, Kassoma falou de como gostaria de ser lembrada, e como tem sido conciliar três estados, “Atleta, Esposa e Mãe”. De referir que Albertina, é casada com o atleta, Francisco de Almeida com quem tem uma linda filha.

Albertina Kassoma- como é ser eleita a MVP da partida entre Angola e a Coreia do Sul?

 É uma honra para mim ser reconhecida a nível mundial, a Coreia é a campeã da Ásia e eu sabia que não seria um jogo fácil, mas graças a Deus ganhamos e consegui mostrar o melhor de mim para o mundo e ajudar a minha equipa.

“CONFESSO QUE NÃO ESPERAVA FATURAR ESSE NÚMERO DE GOLOS”

Estava convicta de um excelente jogo? Achou que iria facturar esse número de golos?

Na verdade, nunca entro para o campo com o pensamento de fazer um mau jogo, mas sabemos que no desporto há dias bons e dias menos bons. No último domingo tive um bom feeling antes do jogo e senti-me confiante. Confesso que não esperava faturar esse número de golos.

“IR JOGAR E TER QUE DEIXAR A MINHA FILHA E O MEU MARIDO É UM MISTO DE SENTIMENTOS, PORQUE QUERES FAZER O QUE AMAS, MAS AO MESMO TEMPO TENS DE ABDICAR TEMPORARIAMENTE DAQUILO QUE CHAMO “TESOURO MAIOR, A MINHA FAMÍLIA”, É DIFÍCIL!

Casada e agora mãe: como é deixar o marido e a filha nesta fase?

Graças a Deus eles estiveram comigo durante todo o campeonato. Como já sabíamos de antemão que eu iria participar no campeonato do mundo então planeamos tudo. Confesso que já fui para outros jogos sem eles e é um misto de sentimentos porque queres fazer o que amas mas, ao mesmo tempo, tens de abdicar temporariamente daquilo que chamo “tesouro maior, a minha família “. É difícil, porém com o apoio deles tudo fica mais fácil.

O que foi mais difícil para a Albertina durante a preparação deste Mundial?

 Para mim, o mais difícil foi o cansaço psicológico. Eu já vinha de um campeonato (champions league) e fui diretamente encontrar a seleção na Hungria. Foi muito desgastante. Digo sempre que o cansaço psicológico é pior do que o físico. Mas graças a Deus consegui superar.

“VAI SER DIFÍCIL FICAR SEM TI AQUI CONNOSCO, MAS É O TEU TRABALHO. VAI LÁ E BRILHA. NÓS ESTAREMOS AQUI A TORCER POR TI E À TUA ESPERA COM SAUDADES “ FRANCISCO DE ALMEIDA, MARIDO DA ATLETA.

Como é o posicionamento do seu marido ao saber que iria ao mundial, e que o deixaria a ele e a filha?

 O meu marido é um fofo e é sempre o primeiro a apoiar-me. Sempre que tenho viagens ele diz “vai ser difícil ficar sem ti aqui connosco, mas é o teu trabalho, vai lá e brilha. Nós estaremos aqui a torcer por ti e a tua espera com saudades “.  Mas nesse campeonato, sabíamos que eu teria que ficar cerca de 1 mês ausente (coisa que nunca aconteceu) então eles foram comigo, até porque a minha filha completou 1 ano de idade, no dia 22 do mês passado e não queríamos estar distantes um do outro numa data tão especial como esta.

“SER MÃE, JOGADORA E ESPOSA TEM SIDO UMA GRANDE LOUCURA, MAS TENHO DADO O MEU MELHOR COM A AJUDA DE DEUS E DO MEU MARIDO PORQUE ELE AJUDA-ME EM TUDO”

Mãe, esposa, jogadora. Conte-nos como tem sido essa experiência?

Tem sido uma grande loucura. Não vou aqui romantizar nada porque é mesmo difícil. Pior se torna, se tiveres um marido que não te apoia e que não te ajuda. Graças a Deus não tenho motivos de queixa quanto a isso. Ele é atleta, eu também sou. Vivemos longe dos nossos familiares (na Roménia) e temos uma bebé de 1 ano. Os nossos horários de treino, às vezes, também não ajudam… Então já podem imaginar o quão louco isso é! Não é nada fácil, nada fácil mesmo conciliar estes três papéis, mas tenho dado o meu melhor. Sou grata a Deus e ao meu marido porque ele ajuda-me bastante em tudo. Tem sido também uma experiência prazerosa para mim, descobri coisas que não sabia que existiam e mudou a minha forma de olhar para a vida.

Até ao momento o que mais lhe marcou neste mundial?

O campeonato mundial é sempre carregado de surpresas e o que mais me marcou foi a vontade de vencer, a união e a entrega que vi no meu grupo quando jogamos contra a França. Não que nos outros jogos não tivéssemos, mas neste jogo teve algo diferente e marcou-me muito.

“NUNCA DESEJEI JOGAR ANDEBOL, ATÉ PORQUE QUANDO COMECEI NEM ACHAVA PIADA NENHUMA. ERA PRATICAMENTE POR OBRIGAÇÃO, O MEU FALECIDO PAI É QUE TEVE ESSA INICIATIVA ASSIM DO NADA DE ME COLOCAR A JOGAR”

Tem noção da tamanha responsabilidade que acarreta ao ser considerada para muitos uma das melhores jogadoras angolanas no mundo? Já agora, sempre desejou jogar andebol?

 Tenho noção disso  e sei que é uma grande responsabilidade. Espero continuar à altura e não decepcionar aqueles que, em mim, depositam toda a confiança. Na verdade, nunca desejei jogar andebol, até porque quando comecei nem achava piada nenhuma. Era praticamente por obrigação, o meu falecido pai é que teve essa iniciativa assim do nada de me colocar a jogar.

Se não fosse atleta, o que seria? Que Albertina Kassoma conheceríamos hoje?

Se não fosse atleta com certeza seria cirurgiã, porque amo medicina e sempre quis fazer esse curso.

Qual é a sua fonte de inspiração no andebol?

Não tem alguém que possa dizer que é a minha fonte de inspiração no andebol, gosto de tirar um pouco de cada atleta que vejo e procuro fazer à minha maneira. “AOS SENHORES EMPRESÁRIOS FAÇO TAMBÉM UM APELO, O ANDEBOL EM ANGOLA AOS POUCOS ESTÁ A MORRER, NÃO PODEMOS DEPENDER SÓ DO GOVERNO”

O que deseja que a sociedade angolana faça em prol do andebol que até o momento não tem feito?

 Mais divulgação e maior valorização dos atletas e do desporto em si. Aos senhores empresários faço também um apelo, o andebol em Angola, aos poucos, está a morrer… Não podemos depender só do governo, as equipas vão diminuindo a cada ano que passa e se continuarmos assim não teremos a seleção que todos estão habituados a ver. Precisamos do vosso apoio , mais patrocínios , abertura de mais clubes para a massificação da modalidade . Há muito talento, porém poucos clubes.

Como gostaria de ser lembrada?

 Excelente pergunta…  Gostaria de ser lembrada como alguém que inspirou gerações, como uma boa irmã, mãe, amiga e companheira. Gostaria de ser lembrada como alguém que deixou leveza e amor por onde quer que passasse.

” TER PAIS QUE TE APOIAM DESDE O COMEÇO FAZ TODA A DIFERENÇA”

Caso um dia os seus filhos decidirem inclinar-se para o andebol, qual será a sua reação?

Iria simplesmente amar porque é um mundo que amo. Independentemente de qual seja o desporto que escolherem irei apoiar a 100%, porque sei bem o que é ter pais que te apoiam desde o começo. Faz toda a diferença.

Para a nova geração que conselho deixa?

Não coloquem limites nos vossos sonhos! Tudo é possível se crermos e trabalharmos para isso. Não permitam que as pessoas vos desencorajem no meio da vossa jornada porque haverá muita gente para dizer que vocês não irão longe , que seria melhor parar e procurar um outro emprego ou estudar , que não têm talento ou que é perca de tempo… Sejam surdas para essas pessoas, foquem nos vossos objectivos e trabalhem duro, mas não se esqueçam de fazer com amor e desfrutar . E, acima de tudo isso, coloquem Cristo como vossa fonte de inspiração e automaticamente tudo fluirá.

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